6.2.15

MARTA HELENA EM PROSA E VERSO


IDENTIDADE


Na vida, nasci tijolo

Lá nas terras de olaria.
E entre os doutos, hoje em dia,
Da Lei ou da Medicina,
Por mais estranho ou bizarro,
Continuo a ser tijolo.
Sou massa do mesmo barro e água da mesma mina.
Referência: Do livro “Eroslogia: a tese do amor.”, Editora Thesaurus, Brasília, 2004, p. 42.

-o-

ROMANTISMO EQUIVOCADO 

Ali onde foi dito
“solitário”,
sedosa e docilmente,
ouviu-se
“solidário”.
E lá onde se anunciou
“homem a homem”,
garbosa e gentilmente,
compreendeu-se
“ombro a ombro”.
E bem aqui onde se pronuncia
“confusão”,
amorosa e simplesmente,
escuta-se
“confissão”.

E, enfim, onde a realidade
teimosa e duramente,
a contradiz, declarando
“frustração”,
calorosa e internamente,
uma voz se faz soar
“fissuração”.
(?)
Afinal, por desconhecer-se
quem mente –
se o real ou se a mente –
a saída é, realmente,
ensurdecer-se mudamente.
Ou assumir-se e reconhecer-se,
dolorosa e literalmente,
em inexoráveis
e tão românticos
equívocos existenciais.

Referência: Do livro “Kairóslogia: o tempo de amar.”, LGE Editora, Brasília, 2006, pp. 28 e 29.


-o-


POETIZANDO EM ONDAS CURTAS


INSCRIÇÃO POÉTICA

Não sou eu 
que escrevo meus poemas.
Eles é que se inscrevem
em mim.


LOUCURA POÉTICA

De poeta a louco...
Dá no mesmo,
ou falta pouco.


SILÊNCIO POÉTICO

Quando o silêncio
Transborda,
“cala-boca” 
já morreu.

Referência: Do livro “Kairóslogia: o tempo de amar.”, LGE Editora, Brasília, 2006, p. 63.

-o-

SUBLIME AÇÃO

Tal qual gelo que se faz vapor,
Fazer poemas é tonar peso em leveza.
É contemplar misérias afetivas com altivez.
É realizar o desejo pela renúncia.
É solda cicatrizando feridas.
É queda livre pousando nos ares.
É nuvem que se derrete
Aquecida ao sol-da-dor.
Ou, mais ainda, ao sol'amour.

-o-


POETS ALWAYS RECOGNIZE ONE ANOTHER




There is something very interesting that usually happens between poets: they recognize one another in a very intuitive way, even before they are introduced one another as poets. Why does it happen? It is not an easy question to be answered. In spite of this, I will try to do it with the best of my knowledge.
A Brazilian poet named Luiz Fernando Veríssimo wrote: “a poem is not made by words. It already existed before.” According to him, poet only puts the words around the poetry to make it appear. Then, he uses very creative metaphor and compares the words used by poet with the bandages of the Invisible Man. What does it mean? I am convinced that it means that poets live in a pre-reflective and intuitive world and they are able to transit from this world into the rational and reflective world. As a consequence, they are able to recognize a poem, which is from the first world, before it is made in words, that is from the second world mentioned earlier. 
About this ability, I also remember Alberto Caero, one of the aliases of the renowned Portuguese poet - Fernando Pessoa - who wrote about how the poets look at things and therefore talk about them. In some of his poems, he told about a manner of speaking that is a result of learning how to look at things. In the same away, it is possible to recognize here a kind of sensibility that makes poets able to perceive a world before world’s rationality, and how to transit between both.
On the other hand, one can clearly recognize that when a poet writes about reality he is also writing about himself, and vice versa. For example, Ferreira Gullar, another Brazilian poet, wrote: “A part of me is only vertigo, another part is language. One translates a part to another, that is a question of life or death, is it art?”. It seems to me that the poet is writing exactly about his transition between the two realities that I’ve mentioned above: intuition and thought; expressivity and communication; sensibility and rationality; no verbal and verbal language.
Taking everything into account, I believe that poets are able to recognize one another not only in the second world, through communication by words. Indeed their ability to live in the pre-reflexive world makes them capable of seeing one another before they speak about themselves. To put it briefly, they don’t need to put themselves on bandages to see one another.

(Marta Helena de Freitas)

19.1.13

BEM-VINDO, APAGÃO!


Bastou chover mais forte em janeiro para que faltasse eletricidade durante horas seguidas. O problema se repetiu em outros dias e, por último, uma sucessão de mais de 10 quedas de energia em uma única manhã! Isso não foi em Sovaco da Cobra, mas em áreas nobres da capital federal.

Qualquer que seja a explicação para as falhas, o que fala mais alto é a realidade dos fatos: apagões e limitações que atingem o consumidor e comprometem projetos de desenvolvimento urbano e industrial. Por isso, a melhor definição para tudo parece contida em uma única palavra: gambiarra.

Tudo bem, temos de reconhecer que houve expansão da capacidade geradora nos últimos anos, mas isso não resolveu os problemas. Para complicar, o crescimento do parque gerador passou a ser um quebra-cabeça, porque o rigor das políticas ambientais se opõe à construção de novas represas. Com isso, as novas usinas não são alimentadas por reservatórios, mas a fio d’água. Curioso nisso é que, ao mesmo tempo em que o fornecimento passa a depender mais das chuvas para funcionar, pode falhar se chover. É que grande parte das linhas de transmissão e redes de distribuição parece dominó de cristal. Não suporta ventos, fogueiras ou algum ultraleve sem rumo, pois cai em efeito cascata de Norte a Sul, como malha mal remendada, com retalhos e quebra-galhos.

Nenhuma crítica à opção brasileira pela energia hidrelétrica, uma vez que contamos com abundância de recursos hidrográficos, mas sim às deficiências no sistema e, agora, as dúvidas sobre a crescente dependência das condições climáticas.

A eletricidade, que há tempos se tornou fundamental em nossa vida, agora passou a ser a base de tudo na era da tecnologia eletrônica. Sem ela, o shopping não funciona, os caixas param, ninguém paga nem recebe. O portão não se abre, o elevador não sobe, os postos não abastecem, o metrô não se move, o trânsito trava no semáforo apagado, a internet cai e a gente fala só enquanto a bateria aguentar. Dos 300 canais de TV, não sobra um sequer. Amigos idem, porque são virtuais. Desnecessário detalhar outros transtornos, como conservação de alimentos, serviços hospitalares e no setor produtivo, onde os prejuízos são milionários. Além disso, vem por aí outro emprego essencial da eletricidade: estamos entrando na era dos carros elétricos, que demandarão recargas pesadas. Será um passo irreversível no uso do automóvel e outra razão que reforçará a importância estratégica da energia elétrica.

Enfim, somos uma sociedade movida pela eletricidade. Aí está o ponto que requer reflexão de todos e revisão de conceitos por parte de especialistas e governantes. O conceito de energia elétrica como simples insumo pertence a um passado distante. Hoje, é recurso estratégico por excelência, fator de sobrevivência para o cidadão, a sociedade e a economia. A gestão desse recurso não pode ficar longe dos centros de decisão, nem subordinada aos limites das responsabilidades e interesses das concessionárias. Por isso, temos de nos convencer de que uma sociedade moderna e uma economia forte não podem depender de um sistema elétrico limitado e instável.

Então, por que não sanamos definitivamente as deficiências ou reconfiguramos a matriz energética? Imagino que pela mesma razão por que nunca levamos muito a sério grandes questões estratégicas. Não nos empenhamos em viabilizar alternativas para situações altamente críticas, como energia, congestionamentos urbanos, colapso carcerário, falência da previdência, insegurança pública, ineficiência aeroviária e transporte rodoviário, este último com o incrível poder de manter o sistema produtivo como seu eterno refém.
Se nos sentimos bem por saber que nunca estivemos mergulhados em drástica escassez, colapso maciço e apagão prolongado, por outro lado essa pode ser uma das explicações para a falta de maior empenho. No fundo, as coisas sempre foram mais ou menos fáceis. Terra abençoada, natureza generosa, sobrevivência fácil...

Mas certos problemas só se solucionam depois de cair a ficha. Antes disso, porém, a energia terá de cair milhares de vezes, até que a gente sinta um tranco daqueles de escurecer a visão. Por isso, com apagões constantes e prolongados, quem sabe o país sinta o tamanho da vulnerabilidade e, então, correremos para tirar o atraso... Bem-vindo, apagão!

(Escrito por Ricardo Zani

10.7.12

PRAZERES DA "MELHOR IDADE"



RUY CASTRO
A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.". Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a "melhor idade" - algo entre os 60 anos e a morte.
Para os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.
Privilégios da "melhor idade" são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da "melhor idade", estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.
Outra característica da "melhor idade" é a disponibilidade de seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar.
Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: "Voltando da farra, Ruy?". Respondi, eufórico: "Que nada! Estou voltando da farmácia!". E esta, de fato, é uma grande vantagem da "melhor idade": você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.
Primeiro, a aposentadoria é pouca e você tem que continuar a trabalhar para melhorar as coisas. Depois vem a condução.
Você fica exposto no ponto do ônibus com o braço levantado esperando que algum motorista de ônibus te dê uns 60 anos.
Olha... a analise dele é rápida. Leva uns 20 metros e, quando pára, tem a discussão se você tem mais de 60 ou não.
No outro dia entrei no ônibus e fui dizendo:
- " Sou deficiente".
O motorista me olhou de cima em baixo e perguntou:
- " Que deficiência você tem? "
- " Sou broxa! "
Ele deu uma gargalhada e eu entrei.
Logo apareceu alguém para me indicar um remédio. Algumas mulheres curiosas ficaram me olhando e rindo... Eu disse bem baixinho para uma delas:
- " Uma mentirinha que me economizou R$ 3,00, não fica triste não"
Bem... fui até a pedra do Arpoador ver o por do sol.
Subi na pedra e pensei em cumprir a frase. Logicamente velho tem mais dificuldade. Querem saber?
Primeiro, tem sempre alguém que quer te ajudar a subir: " Dá a mão aqui, senhor!!! "
Hum, dá a mão é o cacete, penso, mas o que sai é um risinho meio sem graça.
Sentar na pedra e olhar a paisagem.
É, mas a pedra é dura e velho já perdeu a bunda e quando senta sente os ossos em cima da pedra, o que me faz ter que trocar de posição a toda hora.
Para ver a paisagem não pode deixar de levar os óculos se não, nada vê. Resolvo ficar de pé para economizar os ossos da bunda e logo passa um idiota e diz:
- "O senhor está muito na beira pode ter uma tontura e cair."
Resmungo entre dentes: ... "só se cair em cima da sua mãe"... mas, dou um risinho e digo que está tudo bem.
Esta titica deste sol está demorando a descer, então eu é que vou descer, meus pés já estão doendo e o sol nada.
Vou pensando - enquanto desço e o sol não - " Volto de metrô é mais rápido.."
Já no metrô, me encaminho para a roleta dos idosos, e lá está um puto de um guarda que fez curso, sei eu em que faculdade, que tem um olho crítico que consegue saber a idade de todo mundo.
Olha sério para mim, segura a roleta e diz:
- " O senhor não tem 65 anos, tem que pagar a passagem."
A esta altura do campeonato eu já me sinto com 90, mas quando ele me reconhece mais moço, me irrompe um fio de alegria e vou todo serelepe comprar o ingresso.
Com os pés doendo fico em pé, já nem lembro do sol, se baixou ou não, dane-se. Só quero chegar em casa e tirar os sapatos...
Lá estou eu mergulhado em meus profundos pensamentos, uma ligeira dor de barriga se aconchega... Durante o trajeto não fui suficientemente rápido para sentar nos lugares que esvaziavam...
Desisti... lá pelo centro da cidade, eu me segurando, dei de olhos com uma menina de uns 25 anos que me encarava... Me senti o máximo. Me aprumei todo, estufei o peito, fiz força no braço para o bíceps crescer e a pelanca ficar mais rígida, fiquei uns 3 dias mais jovem.
Quando já contente, pelo menos com o flerte, ela ameaçou falar alguma coisa, meu coração palpitou. É agora...
Joguei um olhar 32 (aquele 
do Zé Bonitinho) ela pegou na minha mão e disse:
- " O senhor não quer sentar? Me parece tão cansado? "
Melhor Idade... Será ??"


Enviado por: J. B. Camargo.

29.11.11

TRÊS VEZES VINTE

Entrando nos sessenta

A reação de homens e mulheres ao passar dos anos é diferente? Depende. Da velhice, só escapa quem já morreu

RUTH DE AQUINO|

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Como a mulher e o homem confrontam os 60 anos? O novo filme da diretora Julie Gavras, exibido na mostra internacional de São Paulo e com estreia prevista para 11 de novembro, trata de envelhecimento. De como esconder ou assumir a idade. Aos 60 você se sente maduro, curioso e sábio ou velho, amargo e ultrapassado? O título do filme no Brasil é assombrosamente ruim e apelativo: Late bloomers – O amor não tem fim. “Late bloomer” é uma expressão inglesa que denomina quem amadureceu tardiamente. Em francês, a tradução do título é clara e objetiva:Trois fois vingt ans (Três vezes 20 anos). Uma conta básica de multiplicação mostra que você já viveu bastante. Um dia teve 20 anos. Também comemorou ou receou os 40. E agora, aos 60, passa para o time dos velhos. Ou não?
Isabella Rossellini (Mary) e William Hurt (Adam) fazem o casal protagonista. Devido a um súbito lapso de memória, a mulher, professora universitária, percebe que envelheceu e toma medidas concretas em casa. Aumenta o tamanho dos números no aparelho de telefone, coloca barras na banheira para o casal não escorregar. O homem, arquiteto famoso, se recusa a se imaginar velho, passa a conviver só com jovens e a se vestir como eles. Ela faz hidroginástica, mas se sente fora d’água, organiza reuniões com idosas e mergulha em trabalhos voluntários. Ele vai para o bar, bebe energéticos e vira a noite. Cada um se apega a sua visão de como envelhecer melhor, sem concessões. Ambos acabam tendo casos extraconjugais. Há nos dois um desespero parecido. Mary exagera na consciência da proximidade da morte. E Adam exagera na negação. Depois de décadas de amor sólido, com os três filhos fora de casa e já com netos, o casal se vê prestes a engrossar as estatísticas dos divorciados após os 60 anos, ao descobrir que se tornaram estranhos e por isso ficam melhor sozinhos e livres. O filme é uma comédia romântica para a idade avançada, um gênero quase inexistente.
Julie Gavras não encontrou nenhuma atriz francesa que assumisse com humor os dilemas de uma sexagenária. “Precisava de alguém com a idade certa, mas que não tivesse feito cirurgia plástica”, diz Julie. “Isabella foi perfeita porque entende que, quanto mais velha fica, mais liberdade tem.” Na França, diz a cineasta, “a idade é uma questão delicada para a mulher”. No Brasil, que cultua a juventude feminina como moeda de troca, é mais ainda. Isabella, um dos rostos mais lindos do cinema, disse ter adorado fazer um filme sobre envelhecimento: “São tão poucos e tão dramáticos. E minha experiência tem sido pouco dramática, aliás bem cômica às vezes. Mulheres envelhecendo são vistas como uma tragédia e foi preciso uma cineasta mulher para ver diferente”.
A reação de homens e mulheres ao passar dos anos é diferente? Depende. Da velhice, só escapa quem já morreu 
Homens e mulheres reagem de maneira desigual à passagem dos anos? É arriscado generalizar. Depende de cada um. Compreendo que mulheres de 60 sintam mais necessidade de parecer jovens e desejáveis – mas alguns homens idosos se submetem a riscos para continuar viris. A obsessão da juventude eterna criou um grupo de deformadas que se sujeitam a uma cirurgia plástica por ano e perdem suas expressões. Mas também fez surgir outro tipo de sexagenárias, genuinamente mais belas, mais em forma, mais ativas e saudáveis enfim.
“As mulheres nessa idade querem aproveitar o mundo, viajar, passear, dançar, ver filmes e peças, fazer cursos. Os homens querem ficar em casa, curtir a família, os netos”, afirma a antropóloga Mirian Goldenberg, que acaba de publicar um livro sobre a travessia dos 60. “Elas se cuidam mais, eles bebem mais. Elas vão a médicos, fazem ginástica, eles engordam, gostam do chopinho com amigos ou sozinhos. Elas envelhecem melhor, apesar do mito de que o homem envelhece melhor. Muitas me dizem: ‘Pela primeira vez na vida posso ser eu mesma’.”

Da velhice ninguém escapa, a não ser que a morte o resgate antes. Cada um lida com ela de forma pessoal e intransferível. O escritor Philip Roth, aos 78 anos, diz que “a velhice não é uma batalha; é um massacre”. Mas produz compulsivamente. Woody Allen, de 75 anos, dirige um filme por ano, mas acha que não há romantismo na velhice: “ Você não ganha sabedoria, você se deteriora”. Para Clint Eastwood, de 81 anos, que ficou bem mais inteligente e charmoso com a idade, envelhecer foi uma libertação: “Quando era jovem, era mais estressado. Me sinto muito mais livre hoje. Os 60 e 70 podem ser os melhores anos, desde que você mude ou evolua”. Prefiro acreditar em Eastwood. Por mais que a sociedade estabeleça como idoso quem tem acima de 60, a tendência é empurrar o calendário para a frente. Hoje, para os sessentões, velho é quem tem mais de 80. Os octogenários produtivos acham que velho é quem passou dos 90. No fim, velho mesmo é quem já morreu e não sabe.

Veja trailler (legendas em francês):



Agradecimentos: José R. de Antoni

27.11.11

HUMOR: COMO ELABORAR UMA CARTILHA PC




(Por Ricardo Zani) 


A Polícia Militar distribuiu panfletos com orientação aos passageiros de coletivos e metrô do DF para se prevenirem contra roubos e assaltos. Uma iniciativa louvável, de grande utilidade pública.
Como é natural, a cartilha tem ilustrações. Acontece que, assim que foi publicada, apareceu quem não gostasse de um dos desenhos. É a ilustração que mostra dois personagens armados abordando uma vítima. Até aí, nenhum problema. Mas alguém concluiu que os bonequinhos com armas nas mãos parecem ser negros.
Então, na Câmara Federal um protesto se ouviu: isso é racismo!
Quando uma iniciativa pública, por melhor que seja, torna-se alvo fixo de pedras grandes, muita coisa pode acontecer em rodas de discussão, gabinetes, palácios, praças, assembleias, plenários e noticiários. Mas nada impede que muita coisa aconteça, também, em nossa imaginação. Ou seja, é inevitável que se recorde o que já se viu por aí para imaginar o que pode acontecer a seguir. Curiosamente, parece que tudo fica mais inflamável quando a polêmica invade o território do "politicamente correto". Então, vejamos.
As medidas esperadas seriam a suspensão da distribuição da cartilha e a preparação de nova edição.
Agora, imaginemos o rumo que as coisas podem tomar.
Os editores alteram a ilustração. Colocam dois brancos assaltando a vítima.
Aí acontece algo incomum e inesperado. Alguém se dói pelos brancos.
“Já que o problema é a cor da pele, por que diabos os assaltantes têm de ser brancos?”
A essas alturas, está claro que a polêmica vai esquentar. Hora de convocar uma reunião.
Um secretário começa a falar. Parece disposto a argumentar que não é politicamente correto defender brancos. Mas os editores falam mais alto:
“Se não pode ser negro e não deve ser branco, o que vamos fazer?”
Nova alteração. A dupla de assaltantes é mista. Um branco e um negro. O problema, agora, é definir a cor da vítima.
Um professor defende o critério das cotas raciais, mas um sociólogo aparece para explicar que a maior vítima da sociedade injusta é o negro. Por analogia, seria mais coerente colocá-lo como vítima na ilustração.
A mudança é feita.
“Ôxe, e negro assalta negro, é?” questiona o representante de um movimento baiano.
Convoca-se, então, uma assembleia democrática. Todos falam muito e muitos entendem pouco.
“Isso aqui tá confuso. Conhecem aquela ministra que tem opiniões escancaradas sobre assuntos velados? Vamos chamá-la...” sugere um iluminado.
A ministra chega com opiniões bem claras:
“Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que as mulheres são vítimas.”
Examina a cartilha e dispara:
“Ora, vejam só. Essa ilustração mostra três homens e nenhuma mulher! Qual foi o critério?”
O Movimento Nova Mulher aplaude e sai em marcha pela Esplanada.
A ministra conclui a análise e comenta:
“Gente, quem entende desse negócio de cartilha é o MEC.”
Uma equipe do MEC é chamada. Professores da rede pública aproveitam para manifestar descontentamentos no lado de fora do prédio. Docentes federais se solidarizam e, no fim do dia, é declarada paralisação por 180 dias.
Equipe do MEC examina a cartilha e conclui que foi elaborada em contexto exclusivamente heterossexual. Adverte sobre o crime de homofobia e faz duas recomendações: diversificar a sexualidade dos personagens e  aliviar o rigor gramatical do texto. “Aliás, todo o texto poderia ser substituído por tirinhas”, sugere um assessor.
O Movimento GLBT aplaude e festeja com uma parada na Esplanada e outras 24 pelo país. Uma ala dissidente vai para as rodovias e interrompe o tráfego para reivindicar tratamento carinhoso.
Os editores começam a rascunhar nova ilustração, que contém uma mulher e personagens de diferentes orientações sexuais, mas se recusam a imprimir antes que haja conclusões consistentes.
Então, um oficial pede a palavra e diz que a nova ilustração parece um baile gay e lembra que a ideia central da cartilha não é sexualidade, mas segurança. E acrescenta:
“A propósito, o crime está atacando em muitas frentes. Com tantos ataques, seria bom ouvir alguém da defesa”.
O convidado da defesa comparece e defende que qualquer decisão seja previamente alinhada ao contexto político das minorias internacionais. Propõe que sejam convidados para o debate Chávez, Evo, Fidel e Ahmadinejad.
Algumas organizações discordam e interditam o Eixo Monumental. Mas o convite é mantido. Enquanto aguardam os estrangeiros, algumas lideranças parlamentares sugerem maior participação da sociedade nas discussões.
Duzentas e vinte representações são chamadas.
Uma ONG se manifesta, avisando que quer ampliar a pauta e que tem pendências sobre demarcação de áreas dos descendentes dos quilombos.
Os Karas-Duras ficam sabendo e também preparam uma pauta em torno da demarcação de terras indígenas.
Durante assembleia, o Movimento Viva Vivo se posiciona contra armas de fogo nas ilustrações e um secretário propõe novo plebiscito sobre desarmamento.
Os convidados estrangeiros chegam e a reunião é transferida para o Centro de Convenções.
Evo vai logo avisando que não sairá dali sem elevar o preço do gás boliviano. Chávez pede moderação, mas exige que um dos assaltantes da ilustração seja caracterizado como Tio Sam:
“Los Estados Unidos es el mayor peligro!”
Um líder político concorda, mas diz que a prioridade agora é explicar aos quilombolas que a assembleia não discutirá demarcação de áreas. Ao ouvir isso, um líder pataxó começa a “twittar” para várias tribos. 
Enquanto na Amazônia caciques se enfurecem por não terem espaço para a questão das terras, Ahmadinejad comunica que fará testes nucleares no subsolo, no setor de embaixadas.
O coordenador da reunião intervém e pede que não percam o foco das discussões. Mas ele próprio fica desfocado e trêmulo quando é interrompido por um assessor que entra às pressas e sussurra ao seu ouvido.
Depois de ouvir, o coordenador anuncia que a reunião será interrompida:
“Estão nos avisando que 800 índios armados cercaram o prédio e nos fizeram reféns.”
Alvoroço, pânico geral, todo mundo telefona para todo mundo.
Alguns dias se passam, até que antropólogos, padres, freiras, indigenistas, sindicatos e Hillary Clinton são chamados para mediar a situação.
Semanas se passam e, finalmente, reconhecem que as negociações não avançam. Exausto, Fidel implora que alguém com afinidades indígenas tome a frente das negociações.
Evo é o cara. Entra em campo com todo o gás e, sem querer, acerta uma joelhada em alguém abaixo da linha do Equador. Resmunga alguma coisa e vai em frente.
Evo passa dez dias expondo propostas para um acordo com os índios, quando alguém o interrompe para avisar que o outro lado não está entendendo sua falação em Aimará. Então, ele se dá conta de que não domina nenhum dos idiomas e dialetos indígenas do lado brasileiro. A essas alturas, as conversações são suspensas.
Neste momento, nada há de novo. A última notícia é de que todos seguem reféns, enquanto se procuram intérpretes que possam fazer tradução simultânea do Xavante, Ianomâmi, Terena, Ticuna, Guarani e Caritiana para Espanhol e Aimará. E vice-versa.
Não há previsão para a reedição da cartilha.

4.11.11

CARRO NOVO? OLHO VIVO!


Por Ricardo Zani

Quando você compra um vinho ou uma pizza que não corresponde ao  padrão ou à qualidade prometida, é lesado como consumidor. Mas se o valor é pequeno e, na pressa, você não se informou bem antes de comprar, acaba deixando pra lá. Enganos desse tipo são quase inevitáveis.
Mas quando se trata de um carro zero, de uma marca sem fábrica no Brasil, aí você terá nas mãos um problema complicado.
Ocorre que isso está se tornando frequente. A explicação pode ser uma combinação de fatores: a facilidade para comprar, com financiamentos a perder de vista, a invasão de novas marcas e os critérios de decisão do comprador.
O último fator é especialmente curioso. Às vezes, fico observando pessoas em lojas de carros. A maioria está pensando em trocar de carro, mas não sabe exatamente por que trocar. Movidos pelo modismo, pela pressão da publicidade ou outros fatores, muitas vezes meramente psicológicos, não é raro trocarem por um carro pior. Alguns vão à procura de um modelo sobre o qual nada sabem. Então, procuram se informar. Com quem? Com o vendedor... 
Outro aspecto engraçado é o exame do carro. A maioria se prende ao que está visível. Mais nada. Examinam cor, brilho, ângulos, desenho. Como se escolhessem enfeite para árvore de natal. Às vezes, aprofundam o exame: maçanetas, teclas e mimos. Espelhos, luzes de cortesia, design do painel. Pronto. É lindo. Vou levar!
Apesar de tantas publicações especializadas e das facilidades para pesquisar na internet, muita gente chega “cru” à loja e vai pela conversa de vendedor.
Uma vez, resolvi ver de perto como alguns deles trabalham. Escolhi uma vendedora. Toda maquiada, saltos altos, elegante, bonita, poses de aeromoça da primeira classe e condicionada a lidar com o perfil médio dos compradores.
Quando ela me falou da cor do carro, respondi que dispensava essa informação, porque óbvia. Perguntei como era a curva de torque. Pensou um pouco e disse que iria se informar para depois responder. Ela comentou os vincos da traseira e eu indaguei sobre a relação peso/potência. Engasgou. Quando destacou o fascinante sistema de partida sem chaves, eu disse que essa frescurinha não me interessava, mas sim o regime de rotações em potência máxima. Olhou-me de um jeito nada amistoso. E, finalmente, quando tentou me atrair para o desenho futurista dos farois, eu fiz questão de perguntar sobre o acionamento do comando de válvulas. “É por corrente em banho de óleo ou correia dentada?” Ela respirou fundo e pediu ajuda ao gerente. Fui muito chato, sim. Mas se todos questionassem pontos essenciais, a cobrança chegaria aos fabricantes.        
Como as vendas se dão, muitas vezes, com base nos aspectos exteriores, o mercado é bom para novas marcas que têm como ponto forte design, painéis de instrumentos e mimos bonitinhos. Com financiamentos que dispensam pagamento na entrada, é uma festa para marcas sem tradição e modelos com belas “embalagens”.
Um exemplo atual é a sul-coreana Hyundai. Inovadora, arrojada, marketing agressivo, preços atraentes e, é claro, algumas qualidades.
Mas “houveram” problemas, como diria um amigo que odeia gramática.
A começar pela confiabilidade. Não faz muito tempo, o presidente da companhia, na Coréia do Sul, foi condenado a três anos de prisão por fraude contra os fundos da companhia. Sim, ele mesmo: o principal executivo! (Saiba mais). Ainda assim, muitos compradores confiam na marca, nos parceiros comerciais, nos vendedores e nos cinco anos de garantia. Aliás, quem se deu ao trabalho de investigar como funciona, na prática, essa “fantástica” garantia, não gostou do que viu. É simples: basta lembrar que é necessário cumprir todo o plano de manutenção para não perder a garantia. Resta saber quanto irão cobrar, de verdade, pelas revisões. Muitos preferiram perder a garantia a pagar por essas revisões.Tem ainda a questão das peças de reposição. Vá se informar com consumidores e seguradoras (mas não com o pessoal da rede autorizada).  
Agora, a novidade é o recente episódio do tão aguardado lançamento: o Veloster.
Um cupê com jeito de esportivo. Aquele das três portas. Lindo, que design! Uma gracinha! 
Muita gente viu anúncios, leu o folder, gostou do preço e correu para reservar o seu.
Demorou, mas chegou. Alguns proprietários já estão rodando felizes da vida. Talvez não vejam nada de errado ou não se preocupem em saber se o carro é movido por cavalos ou pôneis, como brinca o genial anúncio da Nissan. Mas quem conhece e faz questão de conteúdo achou estranho. Onde estão os anunciados 140 cavalos? Cadê a injeção direta do motor GDI? 
Compradores juram que o carro não tem o motor prometido. Gustavo Dias, moderador do fórum VeslosterBrasil, na internet, diz que depois de ver tantos relatos levou o carro a uma oficina particular para aferir desempenho em aparelhos (dinamômetro). Resultado: 92 cv líquidos (na roda), o que corresponde a mais ou menos 124 cv no motor. Ou seja, ficou no ar a incrível suspeita de que não seria o 1.6 GDI de 140 cv, mas o 1.6 de 125 cavalos, velho conhecido no Chile. Detalhe: dizem que, nos documentos da compra, consta potência de 140 cv.
Tudo isso está em duas matérias na revista Quatro Rodas de novembro/2011. Estão nas páginas 72 e 154.    

28.10.11

HUMOR: DEFINIÇÕES HILÁRIAS




"Viver no Rio é uma merda; mas é bom. 
Viver em New York é bom, mas é uma merda."
(Tom Jobim).


Por ocasião da inauguração da Ponte Rio-Niterói, 
pediram a opinião do Max Nunes. Eis a resposta:
"Por um lado, é muito bom; por outro lado, é Niterói."
(MaxNunes)


"Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; 
quando estamos dentro, dói na pele."
(Stanislaw Ponte Preta)


"A Academia Brasileira de Letras se compõe de 
39 membros e um morto rotativo."
(Millôr Fernandes)


"Brasil? Fraude explica."
(Carlito Maia)

"Pior do que o fim do mundo, para mim, é o fim do mês."
(Zeca Baleiro)


"Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer."
(Millôr Fernandes)

"Acho o Brasil infecto. Não tem atmosfera mental; 
não tem literatura; não tem arte; 
tem apenas uns políticos muito vagabundos."
(Carlos Drummond de Andrade)


"Como se algum político, com exceção de meia 
dúzia de três ou quatro, representasse alguém, 
a não ser a si mesmo, a família e aderentes."
(João Ubaldo Ribeiro)


"Democracia: é quando eu mando em você.
Ditadura: é quando você manda em mim."
(Millôr Fernandes)

"No Brasil, quem tem ética parece anormal."
(Mário Covas)


"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de 
ser um sujeito normal."
(Raul Seixas)


"Não é triste mudar de idéias; triste é não ter 
idéias para mudar."
(Barão de Itararé)


"Ninguém morre, as pessoas despertam do sonho da vida."
(Raul Seixas)


"Comecei uma dieta: cortei a bebida e as comidas 
pesadas e em quatorze dias perdi duas semanas."
(Tim Maia)


"A minha vontade é forte, mas a minha disposição 
de obedecer-lhe é fraca."
(Carlos Drummond de Andrade)


"O sol nasce para todos, 
a sombra pra quem é mais esperto."
(Stanislaw Ponte Preta)

"Nada nos humilha mais do que a coragem alheia."
(Nelson Rodrigues)


"Celulites não são apenas celulites, elas querem dizer:
Eu sou gostosa. Só que em Braille "
(Rita Cadilac - ex-chacrete)


"O que te engorda não é o que você come entre 
o Natal e o Ano Novo, mas o que você come entre 
o Ano Novo e o Natal "
(Hebe Camargo)


"Se o horário oficial é o de Brasília, por que a gente 
tem que trabalhar na segunda e na sexta-feira?"
(Marta Suplicy)


"Para seu marido não acordar com a macaca, depile-se "
(Vera Fischer)


"O homem é um ser tão dependente, que até pra ser 
corno precisa da ajuda da mulher. Pra ser viúvo, também."
(Dercy Gonçalves)


"Por maior que seja o buraco em que você se encontra, 
pense que, por enquanto, ainda não há terra em cima."
(Yasser Arafat)


"Cabelo ruim é igual a bandido: 
ou tá preso, ou tá armado ."
(Belo)


"Preguiçoso é o dono da sauna, 
que vive do suor dos outros."
(Príncipe Charles)


"Não me considere o chefe; considere-me 
apenas um colega de trabalho que tem sempre razão..."
(George Bush)


"Malandro é o pato, que já nasce com os dedos 
colados pra não usar aliança."
(Zeca Pagodinho)


"Se um dia, a vida lhe der as costas...
Passe a mão na bunda dela."!
(Nelson Rodrigues)


"Os psiquiatras dizem que uma em cada quatro 
pessoas tem alguma deficiência mental...
Fique de olho em três de seus amigos. 
Se eles parecerem normais, o retardado é você."
(Palloci)


"Todo mundo tem cliente. 
Só traficante e analista de sistemas é que tem usuário."
(Bill Gates)


"Mulher de amigo meu é ígual a muro alto...
Sei que é perigoso, mas eu trepo."
(Antonio Fagundes)


"Casamento: começa em motel e termina em pensão."
(Daniel Filho)


"Seja legal com seus filhos. São eles que vão 
escolher seu asilo."
(Desconhecido)

Agradecimentos: Ângela M. Pereira